O Mirassol Futebol Clube vive o maior momento de seus 100 anos de história. A campanha que culminou com a vaga direta na fase de grupos da Libertadores de 2026, após um desempenho histórico na Série A do Campeonato Brasileiro, foi tema de uma entrevista longa, profunda e emocionante do vice-presidente Juninho Antunes no podcast TS Esporte Clube, da TS Rádio Mirassol.
Avesso aos holofotes, Juninho fez questão de participar do programa em um momento que ele próprio definiu como “de transição de um sonho que virou realidade”, abrindo os bastidores da gestão, das decisões esportivas e dos desafios que o clube já enfrenta mirando a próxima temporada.
Do sonho da permanência à vaga na Libertadores
Juninho relembrou que o primeiro grande objetivo do Mirassol na Série A era permanecer na elite, sempre respeitando o orçamento e evitando riscos financeiros.
“O Mirassol depende muito da receita do ano. Não dá para errar como clubes grandes erram, fazendo contratos longos e irresponsáveis. Nosso primeiro sonho era permanecer na Série A”, explicou.
Segundo ele, o ponto de virada da campanha aconteceu no jogo contra o Ceará, fora de casa, quando o clube percebeu que o desempenho sustentava objetivos maiores. A partir daí, metas esportivas e premiações cuidadosamente calculadas foram ajustadas, sempre com responsabilidade financeira.
“Depois que realizamos o primeiro sonho, sentamos e falamos: agora vamos sonhar mais. E o time respondeu de uma maneira maravilhosa.”
Gestão responsável e novo CT já em andamento
Um dos pilares reforçados por Juninho foi a gestão financeira rigorosa, que permitiu ao clube fechar a temporada “no azul” mesmo com investimentos importantes.
Durante o programa, o dirigente revelou que o Mirassol já adquiriu um segundo Centro de Treinamento, que será reformado para receber o futebol feminino e parte das categorias de base.
“Já está pago, a reforma começou. Vamos ter CT1 e CT2, ambos com academia, fisioterapia e estrutura de excelência. Futebol feminino e base vão crescer ali.”
Por que o Mirassol não é um “novo São Caetano”?
Ao comparar o Mirassol com outros clubes emergentes do passado, como São Caetano e Chapecoense, Juninho foi direto ao apontar a diferença principal:
“A estrutura muda tudo. O Mirassol antes e depois do CT são dois clubes diferentes.”
Ele relembrou que o investimento estrutural começou com a venda de Luiz Araújo em 2017, recurso usado para iniciar o CT que hoje é referência nacional.
“O Luiz Araújo foi o ponto de partida. A partir dali, tudo mudou.”
A saída de Danielzinho e a coerência do projeto
Juninho explicou com transparência a saída do meia Danielzinho para o São Paulo, destacando que o clube chegou ao limite financeiro possível para um contrato responsável.
“Se o time não for bem dentro de campo em 2026, a receita do Mirassol pode cair cerca de 85%. Não podemos fazer loucura. Preferimos perder um jogador do que colocar o clube em risco.”
O dirigente fez questão de agradecer ao atleta e reforçar a filosofia do clube:
“O Mirassol melhora pessoas. Pegamos o Danielzinho do Novorizontino e entregamos ele ao São Paulo. Isso me deixa satisfeito.”
Rafael Guanaes, alinhamento e identidade de jogo
Juninho detalhou os bastidores da contratação do técnico Rafael Guanaes, feita literalmente “dentro de um táxi”, e explicou por que o Mirassol optou por manter sua identidade de jogo mesmo diante do desafio da Série A.
“Não posso fugir da característica do Mirassol. Preciso de alguém que aceite o clube como ele é, não alguém que venha impor.”
O dirigente também reforçou a política de contratos com segurança jurídica para ambos os lados, prática que o clube mantém há anos.
Paulinho: peso, credibilidade e gratidão
A presença de Paulinho, hoje executivo de futebol, foi apontada como fundamental na campanha histórica.
“Quando o Paulinho liga, o peso é muito grande. Ele trouxe credibilidade, tranquilidade e alinhamento.”
Juninho confirmou que a mudança de função partiu do próprio Paulinho e que, apesar de assédios de grandes clubes, o ex-volante segue totalmente comprometido com o projeto.
“Gratidão é tudo na vida. E isso ele tem.”
Libertadores: exigências, estádio e desafios inéditos
Sobre a Libertadores, Juninho não escondeu o tamanho do desafio. Segundo ele, o licenciamento da Conmebol ultrapassa 200 páginas e impõe regras rígidas.
“Na Libertadores, o estádio deixa de ser do clube. Ele passa a ser da Conmebol.”
O Maião já passou por vistorias, ajustes no gramado, iluminação e estrutura. O dirigente explicou que 1.170 cadeiras cativas precisarão ser realocadas apenas nos jogos da competição continental, devido à obrigatoriedade de espaços para patrocinadores.
“Não é escolha, é regulamento. Vamos ter que nos adaptar.”
O Mirassol será cabeça-de-chave do pote 4, o que pode render confrontos contra gigantes sul-americanos.
“Se pegar Boca, River, Racing… seria fantástico para a cidade e para a região.”
Futebol feminino e impacto social
Outro anúncio importante foi a criação do futebol feminino profissional, com equipe já sendo estruturada para disputar o Paulistão.
“Não é brincadeira. É profissional, com estrutura, comissão técnica e investimento.”
Juninho também destacou o papel social do clube, citando histórias emocionantes de torcedores impactados pelo Mirassol, como crianças e famílias que encontraram no futebol um novo sentido para a vida.
Identidade, raízes e emoção
Em um dos momentos mais emocionantes da entrevista, Juninho relembrou sua própria história com o clube, desde o avô — que faleceu no estádio em 1975 — até sua passagem como jogador e dirigente.
“Mirassol me deu muito. Hoje, a maior satisfação é retribuir isso para a cidade e para a região.”
Ao ser questionado sobre o sentimento de ver o clube disputar a Libertadores, ele resumiu:
“É surreal. Não tem como dimensionar. É agradecer a Deus e seguir fazendo tudo da maneira correta.”
“O segredo do Mirassol é a união”
Para encerrar, Juninho reforçou que não existe protagonismo individual no Mirassol.
“Ninguém faz nada sozinho. O segredo é a união de todo mundo: diretoria, funcionários, jogadores, torcida e cidade.”
A entrevista completa está disponível no canal da TS Rádio Mirassol no YouTube.
Foto: Marcelo Silva
